segunda-feira, 22 de junho de 2015

PORQUE APOIO SAMPAIO DA NÓVOA

Nuno Santa Clara

Há apenas alguns dias, uma apresentadora de Televisão leu uma notícia em que era referido um tal Sampaio da Névoa. Assim mesmo.
Dislexia ou falta de atenção?
Penso que, antes de mais, isto demonstra alheamento de quem não é colunável (ainda que provisoriamente). Se se tratasse, em vez de um antigo reitor de Universidade, de um ator de telenovela ou desportista promissor, não se teria dado este lapso. No mesmo sentido do alheamento (nas desta vez voluntário) se pronunciou um político partidário, dizendo que Sampaio da Nóvoa era um desconhecido.
Uma questão se levanta: como se faz um político? Aparentemente, e a crer nas reações acima descritas, a função está vedada a desconhecidos. Quem não for conhecido (quase diria nascer conhecido, como nas monarquias) não pode ser candidato - quanto mais ser eleito.
Seguindo esta linha de raciocínio, acabaríamos na famosa questão do ovo e da galinha - questão profunda, que ainda ninguém resolveu.
Se analisarmos, ainda que superficialmente, o que se passa noutras Democracias, constatamos que a maioria dos governantes tiveram outras carreiras antes de dar o salto para a Política. Ou seja, foram ovo, e depois viraram galinha.
Ora, no Portugal de hoje, debuta-se na política desde os bancos da escola – não no sentido de um louvável esclarecimento, mas como o princípio de uma carreira de futuro. Ou seja, esses políticos foram ovo, mas continuam ovo.
E este é um do motivos que me faz apoiar Sampaio da Nóvoa: alguém que trilhou um caminho pouco fácil, recheado de obstáculos, cursos (sem equivalências), concursos, trabalhos, lições, palestras, etc.; depois, entendeu querer pôr as suas capacidades ao serviço do interesse comum, em vez de uma sinecura que lhe teria sido fácil obter.
Outro motivo é a coragem com que se apresentou, de certo modo contra a corrente. A sua candidatura vem daquela nebulosa que constitui a esmagadora maioria do Povo Português, que vem nutrindo um sentimento de frustração em relação à praxis política atual, tornada tradicional em duas gerações. Sampaio da Nóvoa parece representar esse sentimento talvez difuso, mas que vem tomando corpo, tanto em Portugal como noutros países, como a vizinha Espanha, e que vem a provocar aquilo que, na aparente paz em que vivemos, me parece o mais importante: lançar uma pedrada no charco.
Não há Democracia sem partidos políticos, e é no seio destes que devem ser encontradas as soluções institucionais para as sociedades. Mas se os partidos não forem confrontados e não responderem perante quem lhes dá vida, ou seja, pela massa dos cidadãos eleitores, o divórcio é inevitável. E as saídas podem não ter nada de democrático. E os partidos são como os seres vivos: nascem, crescem e também declinam e morrem – sem que tal implique a falência do sistema. Quantos partidos conhecemos nós desde 1820? 
Um terceiro motivo deriva deste sentimento, que se vai afirmando em diversos setores da nossa sociedade. Esse sentimento está em marcha, e de nada vale declarar vitorianamente que “não sei quem é”, ou “não quero saber”. Não terá talvez a pujança de idênticas movimentações noutras paragens; mas, no entanto, ele move-se…Outros motivos haveria – e haverá decerto muitos mais, e o futuro se encarregará de os divulgar.Mas, para mim, estes são princípio suficiente. Suficiente no sentido de justificar o meu empenhamento.