quinta-feira, 8 de outubro de 2015

DECLARAÇÃO DE ANTÓNIO SAMPAIO DA NÓVOA








Por respeito institucional, só agora me dirijo aos portugueses, depois de ouvir e ponderar sobre a comunicação oficial do Senhor Presidente da República. Não posso deixar de dizer que me surpreendeu ter sido proferida antes de serem definitivamente conhecidos os resultados eleitorais e antes de terem sido recebidos os partidos políticos.
Foi a opção do Senhor Presidente da República, mas eu teria agido de modo diferente. A interpretação dos resultados eleitorais deve ser feita na sua plenitude, com independência, sem leituras parciais ou parcelares. Para enquadrar os limites da sua intervenção, o Senhor Presidente da República mencionou vários tratados, regras e compromissos do nosso país, no plano europeu e atlântico, mas não se referiu, com a centralidade necessária, à Constituição da República Portuguesa.
Numa democracia parlamentar nenhum partido representado na Assembleia da República deve ser colocado, ou deve colocar-se, imediatamente, à margem das soluções de governação. Não há partidos, nem cidadãos, de primeira ou de segunda. Todos os votos têm a mesma legitimidade. É assim em todas as democracias europeias.
A interpretação dos resultados parece-me clara. Os portugueses manifestaram a vontade de, prudentemente, virar a página da austeridade e de construir políticas de desenvolvimento económico e de justiça social, num quadro de inovação e de defesa do Estado social. Os portugueses manifestaram, também, um desejo de continuidade na relação com a Europa, ainda que com o reforço da nossa autonomia no seio das instituições europeias.
Depois das eleições, não pode ficar tudo na mesma na nossa estratégia europeia e na nossa estratégia económica e social. Não foi o fim de nada, mas foi o princípio de um movimento de mudança que se encontra, há demasiado tempo, à procura de uma representação política comum.
Tendo em conta o resultado das eleições legislativas, ficou mais clara do que nunca a urgência desta candidatura. Faz falta um Presidente da República que seja capaz de representar todos os portugueses e de construir compromissos históricos num tempo tão exigente da nossa vida colectiva. Um Presidente que não exclua ninguém. Um Presidente que não esteja refém de interesses particulares ou de lógicas partidárias. Um Presidente capaz de acolher e de apoiar as alianças necessárias à estabilidade governativa. Um Presidente sem preconceitos e sem tabus.
Os portugueses, hoje, conhecem-me melhor. Quanto mais difíceis são os desafios, mais forte é a minha determinação, o meu compromisso. Foi assim durante toda a minha vida. É assim, agora, nesta candidatura.
Nos últimos dias, aberto o tempo das presidenciais, tenho vindo a receber palavras de incentivo de todo o país, de independentes e de militantes e simpatizantes de todos os partidos com representação parlamentar. O que sempre me animou foi, e é, a coragem das pessoas, anónimas, que sentem esta candidatura como um sinal de esperança e de futuro.
Porque agora é que é mesmo preciso um Presidente presente, um Presidente capaz de acordar Portugal, um Presidente de causas.
Porque agora é que é mesmo necessária uma candidatura independente, um Presidente que interprete, com isenção, a vontade popular. Um Presidente deve estar acima dos partidos, e não lhes deve impor a sua vontade. Deve ser um árbitro, e não árbitro e jogador ao mesmo tempo. Os portugueses estão cansados de atitudes parciais, de intrigas partidárias, de jogos de bastidores. Exigem que o interesse nacional esteja sempre acima de interesses particulares.
Hoje, mais do que nunca, a democracia precisa de um suplemento cívico. Tivemos a maior abstenção de sempre em eleições legislativas. Não podemos continuar a fingir que nada se passa. Precisamos de fazer uma reflexão profunda sobre o nosso sistema eleitoral, e agir em coerência para combater o afastamento dos cidadãos da vida política. A batalha pela qualidade da democracia está, desde o início, no coração da minha candidatura.
Hoje, mais do que nunca, é necessário um Presidente que defenda a Constituição e o Estado Social. A minha fronteira não é entre Esquerda e Direita, é entre aqueles que estão ao serviço da República e aqueles que dela se querem servir.
Apresentei a minha candidatura há mais de cinco meses. Em nome da cidadania. Não esperei pelo apoio de nenhum partido para lançar a lançar. Não estou dependente de nada, nem de ninguém, apenas dos portugueses e das portuguesas que queiram juntar-se a esta causa. Todos são bem-vindos: cidadãos, grupos, movimentos sociais e partidos políticos.
Tive presente, como sempre tenho, o exemplo dos três Presidentes da República, de quem recebi o estímulo e o apoio no lançamento da minha candidatura.
Faltam pouco mais de três meses para as eleições presidenciais, que decorrerão em Janeiro de 2016. Durante o período eleitoral para as legislativas, reuni e consolidei as condições necessárias ao sucesso da candidatura.
Vou bater-me por um país com uma nova visão geoestratégica, com uma perspectiva de futuro assente na educação e no conhecimento, na ciência, na tecnologia e nas inovações promovidas pela livre iniciativa das pessoas, das instituições e das empresas. Sempre com uma fortíssima consciência social. Vou bater-me pela República em que acredito.
Podemos renunciar a tudo, mas nunca aos nossos ideais, à nossa palavra, à nossa consciência. Juntos, vamos mostrar que, quando os portugueses querem, o país acorda, avança, é capaz de abrir novos futuros. Juntos, vamos dar uma nova esperança a Portugal. Com energia. Com entusiasmo.
No final, estou certo de que teremos orgulho no que alcançámos e a serenidade de quem cumpriu a sua obrigação. 
Não quero nada para mim, mas estou disposto a dar tudo.
8 OUT 2015