terça-feira, 11 de agosto de 2015

SAMPAIO DA NÓVOA. O INDEPENDENTE TÍMIDO QUE ADMITE IR VIVER NO PALÁCIO DE BELÉM

Ana Sá Lopes

O candidato apoiado por três ex-Presidentes da República está na estrada desde 29 de Abril.
Trinta anos depois de o casal Eanes ter deixado de morar no Palácio de Belém, um candidato presidencial admite a hipótese de, caso seja eleito, voltar a ocupar como morada o palácio cor-de-rosa. António Sampaio da Nóvoa, em entrevista ontem ao “Diário Económico”, afirmou ser “provável” que, se ganhar as eleições presidenciais, venha a instalar-se dia e noite no Palácio de Belém.
Desde que Ramalho Eanes deixou de ser Presidente da República, nunca mais lá ninguém dormiu permanentemente: Mário Soares continuou a morar na sua casa do Campo Grande, Jorge Sampaio permaneceu na sua residência da Rua Padre António Vieira, perto da Artilharia 1, no centro de Lisboa, e Cavaco Silva, apesar de se ter mudado para o Palácio de São Bento durante os dez anos como primeiro-ministro, enquanto Presidente preferiu manter a morada na Travessa do Possolo, à Estrela. 
Mas esta não é a única coincidência entre Sampaio da Nóvoa e Ramalho Eanes. Comecemos pela timidez: todos os que assistiram à vida pública do primeiro Presidente eleito em democracia sabem que era um tímido. Sampaio da Nóvoa é exactamente igual. Numa entrevista que deu a Anabela Mota Ribeiro antes de ser candidato presidencial, Sampaio da Nóvoa assume essa característica: “Há uma dimensão de timidez muito forte, isso há. Esse ambiente social, dos jantares a 20, são coisas em que circulo mal. Gosto do diálogo a dois, a três. Dou--me razoavelmente bem com as multidões – a multidão permite anonimato.”
Não gosta do social: “Os meus pais nunca cultivaram esse jogo social. É um ruído grande.”
É também a Ramalho Eanes que Sampaio da Nóvoa foi buscar a defesa da austeridade, não como política pública, mas como marca de vida pessoal. Também a separação entre política e negócios tem sido um mantra da sua campanha. “Dedicarei uma atenção especial ao combate à corrupção e à promiscuidade entre a política e os negócios. Não aceitarei nunca que interesses particulares se sobreponham ao interesse de todos”, disse na apresentação da sua candidatura, no Teatro da Trindade, no dia 29 de Abril.
Um mês antes, no congresso da cidadania organizado pela Associação 25 de Abril, tinha sido ainda mais duro: “Quem gostar muito de dinheiro deve afastar-se da política. Se tiver as mãos atadas por promiscuidades, tramas e tramóias, não terá condições para defender o interesse de todos.” Foi nessa altura que fez o seu discurso de pré--candidatura – só um mês depois anunciaria a decisão final – e invocou pela primeira vez “o legado dos Presidentes Ramalho Eanes, Mário Soares e Jorge Sampaio”, que tem feito parte de todos os seus discursos enquanto candidato à Presidência da República. Aliás, tem o apoio activo dos três ex-Presidentes. Mário Soares foi o primeiro a anunciar o apoio, Jorge Sampaio compareceu na sessão de apresentação no Teatro da Trindade e Ramalho Eanes anunciou o seu apoio um pouco mais tarde.
O reitor honorário da Universidade de Lisboa nasceu no Minho há 61 anos, na casa de família onde nasceram todos os seus irmãos. Teve um percurso que ele próprio qualifica como atípico. Começou por estudar Matemática em Coimbra (ao mesmo tempo que jogava como futebolista profissional na Académica), onde se apaixonou pelo teatro e decidiu romper com a Académica e a Matemática e entrar no Conservatório de Lisboa. Só depois entrará no campo das ciências da educação. Fez um doutoramento em Ciências da Educação pela Universidade de Genebra e outro em História pela Universidade de Paris IV.
Convidado pelo PS para vários eventos desde o tempo de Seguro, Sampaio da Nóvoa era o candidato favorito do secretário--geral e do presidente do PS, que chegaram a admitir apoiá-lo logo em Abril. Mas a divisão que o nome provocou nas hostes socialistas e a emergência da candidatura de Maria de Belém rebentaram com a estratégia e deixaram Nóvoa mais só.